sábado, 25 de fevereiro de 2012

No quintal úmido

No quintal úmido, as gotas, com um descompasso rítmico de dar dó. De pingo em pingo se equiparavam aos pensamentos de Laurindo, vagantes acima dele, uns depois outros, sem se abranger nem se juntar. Agora, sim, o velho Laurindo, rindo, erguia o boné ao policial que passava e ordenava silêncio, como para dar-lhe a entender que já tinha entendido. Sua vida não estava pra contendas. Até seu polegar caloso soava oco na madeira da mesinha, ao toque manso de uma melodia imaginária. O raio havia caído na casa ao lado. Desmanchara-se em clarões e incêndio para subverter o escuro da noite. O pânico dos vizinhos estrondosos acordou Laurindo, que já sonhava há horas (ou imitava, fingido para si mesmo, os sonhos que um dia sonhou). Aquela chuvinha, que vinha e ia, e ele só espiando o movimento. Mundo louco esse daí.

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