sábado, 4 de fevereiro de 2012

Memorava e admirava

Memorava e admirava os ócios de seus ofícios. Ser impenitente lhe conferia suas vantagens. Tal o contador de histórias, a dizer do sexo que não houve ou da riqueza que quase ganhou, uma reta de coerência bronca tornava tátil a satisfação de Túlio. Qualquer troço era utensílio da fala: a caneta bic com a qual mexeu o gelo oculto sob a escrivaninha do escritório; o elástico na régua de plástico disparado para acertar mosquitos; a mão direita canhestra passada às tontas nas nádegas flácidas da secretária esnobe. Vai daí um vaticínio de Cícero, vilão sem causa e volátil como a vodka que ambos consumiam muito: - “Pra mim, Túlio, uma bruxa amaldiçoou teus gestos, e tu nunca vais comer ninguém!”.

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