quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Bateu a cabeça

Bateu a cabeça no vidro da janela, mas não doeu tanto quanto o amor transformado em conta de plano de saúde, parcelas do sofá e prestações da nova geladeira. Saboreou a dor do galo na testa, como se fosse uma esperança. Tadeu haveria de colocar-lhe compressa de panos quentes. Depois de andar em círculos durante horas pela saleta do apartamento, percebeu que não havia nem uma poltrona quitada para sentar, nem um tapete que pudesse acomodar a poltrona, uma luminária ao lado, capaz de lhe clarear novas leituras, nem a poltrona, enfim. O marido chegou tarde, com ideias distantes e corpo parcialmente presente. Débora tratou logo de apontar-lhe a dor, o inchaço na cabeça, o vazio de “alguma coisa”. Temos que conversar, disse, por fim, reflexiva. E reclamou, sem piedade, da necessidade de uma remodelação da sala.

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