domingo, 15 de maio de 2011

O grilo não

O grilo não sabe que hoje é sábado. Empenha-se em cantar como numa segunda-feira, árduo no batente. Fosse terça, e seu cri-cri carregado de mais bem-aventurança e verdadeira singeleza se manteria inalterável, alheio aos conceitos e significações humanas desse mundo. Na quarta-feira, tampouco, seus olhos se dirigiriam a um vazio, prenhe de significações, como as gentes às vezes o têm. Cantaria, e apenas isso.
Como cordas tangidas de uma harpa, sempre no mesmo ponto, tateando as mesmas notas, cantaria na quinta, sem almejar alturas ou outras glórias. Na sexta-feira, com seus assaz parcos dotes intelectuais, perspicácia alguma, o que por dedução nos eximiria em falar de sensibilidade, o grilo cantaria de novo. Não sei por qual maravilha se opera essa chatice.

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