segunda-feira, 9 de maio de 2011

Mirou o mastro

Mirou o mastro com desdém. Fosse cego e aquilo também lhe encantaria de maneira idêntica. Surdo também, e estaria perfeito. Dorival não era dado às solenidades, fossem cívicas, religiosas ou sociais. Quando muito aparecia assim, numa daquelas da qual não caberia ausência a frio ou desculpas. Aqueles sons descomunais, cálidos, ruidosos, o deixavam irritadiço e grosseiro, ao ponto de mais de uma vez mandar à merda os generais, religiosos ou políticos. Agora, estava ali. As baquetas ruflando sem piedade todos os tambores e a bandeira subindo. Seu olhar inexpressivo mandava ao cérebro paisagens distorcidas. Seus ouvidos agredidos cutucavam a irascível vontade de amassar o catálogo da programação e lançá-lo em forma de bola na orelha do soldado que puxava a corda. Pensou em Helena, e foi a salvação. Guardaria a raiva para tirar a desforra com aquela sem vergonha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário