sexta-feira, 15 de junho de 2012

Coxeava a perna

Coxeava a perna esquerda, mas com a direita era capaz de vencer maratonas. Aposentado com bela renda, Onório nem tinha tino para entregador de pizzas, mas cismou que seria no cumprimento dessa tarefa que lhe surgiria a alma gêmea. Haveria de ser alguém de gosto tradicional. A cada calabresa solicitada, margherita, quatro queijos ou portuguesa, Onório entrava em êxtase. Movimento fraco, Onório firme e forte. De repente, naquele telefonema: frango com catupiry. Dona Valda. Dizer no interfone do 44 a senha “Valdinha”, porque morava sozinha, tinha medo. Onório penteou os cabelos, perfumou-se, deu dois tapinhas nas próprias bochechas e seguiu. Ela! “O senhor tem tempo para saborear um pedacinho?”. Todo. Uma vida inteira. Ele, manco. Ela, tradicional.

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