sexta-feira, 25 de maio de 2012

A morte é

A morte é quando já não estamos, então há motivo para tê-la. O rabisco “já vou” deixado por Everaldo, no pequeno blocos de receitas do médico daquela UTI infecta, permanece um mistério. Foi quando pareceu que iria despertar de vez. Tinha algo de semichoroso nos olhos, as mãos trêmulas já pareciam viúvas, mas um riso provisório ainda lhe escapava pelo canto da boca. Tivemos uma conversa franca na véspera, e Everaldo disse que tinha a noção exata de seu saldo. Também não soube precisar que saldo era esse. Pediu para que eu lhe perdoasse o rancor, porque seus diálogos durante o coma não tinham sido lá muito camaradas. Não disse com quem conversou. Eu soube da notícia na noite seguinte. Ele, pelo visto, já sabia.

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