quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Desdigo o que faço

Desdigo o que faço. Matar frangos não é coisa do interesse de ninguém. Falo que trabalho lá, no frigorífico. Dou o horário e tudo: das sete às cinco horas da tarde. Sei lá quantos foram ontem: uns mais de mil. Eles surgem em fileira, com pés já presos e de cabeça para baixo. Só passo a faca. Dizer que não sinto um troço também não digo. Nos primeiros, depois... é, é meio mecânico. Vou pra um lugar ausente que não sei onde. Viro só braço, faca e sangue. Sempre tem uns doentes querendo meu emprego. Já, eu, procurei evitá-lo, não deu. Acho que logo, logo me pareço com um dos frangos que executo, não dá para adiar o destino. Tomara o chefe perca a cabeça também. Não, não desejo a ele o mal dos frangos, só uns equívocos. Se ele errar, quem sabe eu consiga a promoção para empacotador?

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