sábado, 26 de novembro de 2011

Dormiu com Proust

Dormiu com Proust, cheio de coisas. Pequenas manias do mau estado, dores do excesso de zelo, contradições da perspicácia. À irmã, que o acordou para o trabalho, pediu licença para a profilaxia. No café, beijou a mão da tia, entre mesuras e agradecimentos pelo pão na chapa. Levou aos lábios uma colherinha de chá, a sorveu alongando o dedo mínimo da mão esquerda, enquanto gesticulava com a direita para comunicar a todos o revés no emprego. Ao olhar reprovador da mãe, fez que sim com os ombros, tornando inofensivo o desastre. Pensou tê-los convencido do infortúnio iminente, e de certa maneira o fez, mas foi justamente o primo rude, da ponta extrema da mesa, quem enxergou, naquela situação toda, o grande engodo: - “É fácil falar de mim, difícil é fazer o que eu faço”, retrucou ao parente fino, como um para-choque de caminhão.


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