domingo, 20 de março de 2011

Porque cismou

Porque cismou em conferir o número de vagões nos comboios nunca saía da margem dos trilhos. Passava horas com um pequeno bloco de anotações na mão, olhando nada, olhando os trens. Estava no trigésimo quinto quando ouviu o estampido. O lápis lhe fugiu das mãos, precipitando o grafite sobre as rodas pesadas, logo esmigalhado. O destino viera pelas costas, se deu conta, quando a condensada mancha de sangue cobriu-lhe o abdômen, depois de sentir uma espécie de picada nas costas. Bala perdida. Transfigurou-se aflito com a turva visão de policiais que perseguiam um homem e o medo iminente de perder a conta. Havia uma espécie de eco no oco da cabeça, tralhetando-tralhetando com o som contínuo do barulho metálico. Quarenta e oito, quarenta e nove. Moribundo pânico. Sessenta e dois, suspirou derradeiro. Encontraram um sorriso preciso em seu cadáver.

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