domingo, 27 de março de 2011

Escapava à razão

Escapava à razão. Havia em algum daqueles fundos da alma uma dízima psicótica com labirínticos coaxares de sapos mágicos. Constrangeria Lewis Carroll, atordoaria os irmãos Grimm, quem sabe até conversaria de igual para igual com Jorge Luis Borges. Palidamente incógnito, soltava às tontas altos impropérios, sempre que o assunto exigisse seriedade. Seus vastíssimos desígnios à inconveniência palpitavam corações desavisados, levando os interlocutores incautos à beira de surtos nervosos. Leviandade e inconsequência, por circunstância, vestiam-lhe como as águas de uma piscina nos vestem quando entramos dentro dela. Só tão louca, quanto ele próprio, era Adélia, sua amada e companheira. Não por solidarizar-se ou vislumbrar-se com as insanidades que dizia, mas quase sempre por não entendê-las e, sem fingimento ou reverência, perguntar o porquê das falas. E olha que esse amor já dura cinco anos...

Nenhum comentário:

Postar um comentário