terça-feira, 29 de março de 2011

O discurso morreu

O discurso morreu de velho. Sobre a postura do compadre, que decidiu abandonar o velho aquário para não ter mais que comprar ração aos peixinhos ornamentais, Adelino sentiu o prato cheio. Sapecou que o homem era um sovina ao cubo, uma progressão geométrica da pãodurice, mas bem sabia que há dias ele próprio não levava carne para casa, sob a desculpa das maravilhas de se viver os vegetais. Um naco de nabo, pé de alface e três batatas médias, pra semana. Foi a velha Matilde, tia, numa nefasta fala, quem corrigiu o dito cujo. “Você fala contra, mas faz tal prol”. Adelino especificou, qualificou, prontificou e nada justificou. Exceto que compadre era aquilo – sóbrio sarcasmo. Quando já batia o vento no rumo da Lua, o compadre apareceu do nada, com a camisa molhada nas mangas: “trouxe aqui uns peixes, pra vocês não passarem fome!”.

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