segunda-feira, 21 de março de 2011

Brando e dissonante


Brando e dissonante, se personagem de desenho animado seria uma espécie do disneyano Touro Ferdinando, não fosse o desdém pelo asseio. Juvêncio era forte e até bom, mas fedia. Melindrado com qualquer palavra que lhe denotasse o cheiro, quase sempre ficava na sua, olhando conversas ou desfrutando a brisa do vento. Por dádiva ou acaso, conheceu Isabela, alma gêmea. A fetidez do casal tornou-lhe escasso o convívio. Mesmo com instrução mediana, que garantiria a quaisquer outros um trabalho menos insalubre, os dois foram carregar carnes bovinas no frigorífico da vila. Toneladas de traseiros, picanhas, filés e alcatras passavam-lhes pelas mãos cotidianamente, para seguirem aos açougues. Curiosamente, a procura pela marca daquela carne no comércio local começou a crescer. Houve filas por uma maminha. Brigas pela fraudinha. Empurrões para se comprar o medalhão. Juvêncio e Isabela dão um duro danado para darem conta do serviço. Chegam a suar bem mais do que suavam sobre as carnes.

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