terça-feira, 15 de março de 2011

Máquina de baile

Máquina de baile, Cleonora dançava sozinha, acompanhada ou sonhando. Sicrano ou beltrano, só precisavam de um piscar de dois lumes. Lá bailavam. Encantavam-se pela leveza do ar cúmplice. Ar venal e ritual, que se dispensava do fardo de propiciar espaços. Cleonora conduzia um inventário de passos, aplicava um acervo de movimentos, abstraia-se no ar, sem pausa ou enfado. Raros eram os fulanos que se arriscavam por sessões inteiras. Horas de círculos e suores expostos. Quando havia um deles Cleonora alava. Parecia voar solta e devota. Nunca tinha nada a perguntar, exceto pelos sussurros, pouco falava ou via. Foi num dia assim, meio em silêncio, que se surpreendeu com o som daquela valsa besta! A pensar sozinha, um impróprio desses, mal conteve os pés acima dos saltos. Sem êxtase, foi ao chão.

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