domingo, 6 de março de 2011

Grossidão

Grossidão elevada, o indicador embuçado no nariz e a mão esquerda lutando com a pelinha solta no dedão do pé. Ernesto fundamentava lapsos no seu ócio tosco ante todos os ofícios. Era um erro, mas tinha o lado benemérito. Quando chegava ao hospital tratava de entregar logo as dúzias de crisântemos que levava aos mais aflitos, sempre aos domingos. Entre um arroto oculto, uma flatulência disfarçada e a imperecível meleca nasal, doava-se aos outros, distinto como uma caixa de chocolates embrulhados em tons brilhantes. Depois ia dali à linha da infâmia, importunando as enfermeiras com gracejos indecentes e a inadequação de um boneco de plástico em loja de cristais. Então voltava pra casa, ao sombreado alpendre com a cadeira de balanço, para as sessões contínuas de maus hábitos pessoais. Pouco se importava quando as velhas vizinhas passavam aos papos altos de “lá está o porco”. No fundo até gostava da intolerância suína que herdou naquela pocilga de vida.

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