domingo, 20 de fevereiro de 2011

Melequem-se

Melequem-se! Gritou o vulto eqüidistante entre os meninos no barro e o desespero das mães dondocas, que viam aquilo como uma vilania. A festa em ziguezigue de pompas e baixarias triunfantes dava-se plena. Duas da tarde. Homens aumentavam o volume das vozes – uísque com cerveja; mulheres lhes falavam mal. Todas. Cada qual desmerecendo seu par e desejando o da outra. A sonoridade sem paciência, o arbítrio do ninguém vai embora, a obrigação da vida em sociedade, dava a dimensão do escracho. O vulto volveu com “podres!”. E ninguém ouviu direito, ou não atentou, ou cantou a repetição da palavra, pensando tratar-se parte da letra da música que tocava ensurdecedora. Repleto de terra e umidade, o mais novinho grudou no short branco da mãe, que deixou cair a empada. “Cacete, Tiago, você quer me deixar pelada?”. A criança chorou. “Só pra irritar”. Do vulto, a advertência sonorizou o ar: “Sodoma!”.

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