quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Dois umbigos

Dois umbigos foram marca e exagero de Deus com Jaqueline. Espécie de proibição implícita para que a pobre não usasse biquíni, blusa curta ou tomasse banho à vista das amigas e namorado. Feito olhos aferrolhados à barriga tanquinho, a beira da aberração era escondida a quatorze chaves – sete para cada orifício. Jaqueline julgou que fora siamesa no útero, e aquela segunda depressão na pele, sem que soubesse ao certo qual das duas era a primeira, só poderia ser uma irmã morta no ninho: um cordão umbilical que deu em nada. Mas ela, afinal, no quê dera? Cova oculta na vida. Buraco a mais na existência? Na falta de compreensão e excesso de vaidade foi ao cirurgião plástico. “Simples ou completo?”, perguntou o douto. Por economia e benevolência Jaqueline optou pelo primeiro. Não queria levar para a sepultura a culpa de ter assassinado a irmã.

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