terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Depois não

Depois não haveria mais como contar. Então se preparou. Era preciso salvar a coisa maior. Um final com requinte exigia antes respirar fundo. Jácomo foi ao litro de groselha e mergulhou a ponta do florete, retirou-a devagar e observou os pingos. Agora, sim, iria à sala. Foi. Era metódico como um daqueles guardas da rainha. Tomou o rumo do sofá. Tobe, a cadela de Janice, quase nunca saía de lá. Armou a pose de ataque e desferiu uma única pontada no coração da bichinha. Retornou à cozinha a apanhou a sobra do doce líquido. Entornou o que havia, junto ao sangue do animal, e aguardou paciente a chegada da noiva. Um grito eclodiu da moça. E meu Deus. Minha pobre Tobe. Jácomo se encheu de meus sentimentos, de que tragédia, de não é possível. Então levantou o litro de groselha com o disfarce e a certeza de um grande detetive criminal: “Veja, Janice, a coitadinha engoliu todo o líquido... pobre diabética!”.

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