sábado, 18 de dezembro de 2010

Solicitude

Solicitude, nem pensar. Jandira é tosca! Toma, é o que diz, ao invés de aqui está ou aceita assim. Gentileza de rinoceronte é a que tem. No fundo é uma exagerada, dada ao esbanjamento. Serve a cachaça até a boca do copo americano e derrama nas bordas. Bêbados, todos os seus clientes, que por si já odeiam sovinaria, amam-na! Jandira tem uma liberalidade que beira a bizarria. Uma largueza a um passo da bondade. O bom é que é imperturbável. Lidar com bêbado não é fácil, naquele boteco da vila, então, só Jandira. À beira da insolvência, há anos, tem a fieza estável dos fornecedores da pinga. Lá pelas tantas, paga a todos. Repassa a confiança aos delirados tremens, que manguaçam, pifam-se e pedem outras. Jandira os serve: rude, grossa. Mas que coração!

2 comentários:

  1. Olá Alaor. Que precisão trouxe essa Jandira aos nossos olhos... Filtrada pela sua sensibilidade, ela surge de maneira ímpar conduzida pela licença que vc tem com as palavras... Ora nos oferece a mulher trabalhadora, ora a conhecedora da natureza humana advinda de uma inteligência bruta, ora uma figura de linguagem. Nessa dança literária, vc humaniza o personagem e nos faz enxergá-la com toda a amplitude que ela merece. Parabéns pelo texto. Muito legal conhecer também o que você escreve. Obrigada pelo comentário deixado no meu Blog. Agradeço com humildade e me sinto honrada. Vamos trocando nossas figurinhas...rs Com certeza elas compõem um album autêntico e verdadeiro, cheio de poesia. Abraços. Luciana.

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  2. Por falar em “inteligência bruta” garanto a vocês que essa me faltou num dado momento da vida. Eu adentrei a um bar e ali alguns sentavam sozinhos as mesas – observei que conversavam consigo mesmos. Tudo bem, sem problemas, afinal, quantas vezes, já dialoguei comigo também. Mas, de repente, um tremens aproxima-se do balcão e pede uma branquinha. Eu olho e ele despeja um pouquinho pro santo e depois eleva o copo aos lábios queimados. Entretanto, antes de sorver o líquido que só passarinho não bebe, ele assopra. Eu, inadvertidamente pergunto: está quente? Nem precisava responder, pois eu vi apenas o branco de olhos enormes para mim estatalados. Com licença, até logo e obrigado! Meu Deus, não fui inteligente...

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