sábado, 4 de dezembro de 2010

Tamborilou os dedos


Tamborilou os dedos, perseguidor do tempo. Leu que a lembrança é mais rápida do que a fala. Para contar que foi criança, subiu na goiabeira, atirou pedras no cachorro apenas com o intuito de espantá-lo e não de acertá-lo, passou sobre a ponte do riacho e comeu amoras no pé, demorava muito mais tempo do que apenas para pensar em tudo isso. Então concluiu que a narrativa é uma farsa, lenta e pouco eficaz, porque não traduz os detalhes da lembrança: suas cores, detalhes e cheiros. Demora a ser contada... Depois da descoberta, Kalige calou-se, virou poeta, repleto de sensações inexplicáveis. Sempre fechava intencionalmente os olhos, fazendo de conta de estava contando histórias a si próprio. E elas eram enormes, detalhadas, sensíveis ou horríveis, mas se passavam tão rápidas, que logo viravam outras...

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