quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Fio até

Fio até que viu, mas da meada, nunca soube nada. Sem chances de se vingar dos sofrimentos. Sofia saía cedo para o emprego, e quando não voltou mais Umbelino só reparou no dia seguinte. Chegara tarde da noite e se estirara no sofá, com medo de ouvir na cama as repreensões que mal suportava na cozinha. Então reparou, no depois de amanhã de suas conjecturas, o rastilho de cólera que ela deixara na pia, feito uma instalação artística: o prato de comida fria, gratinada com visíveis cacos de vidro dos copos verdes quebrados. Isso é de matar, pensou, como se já tivesse visto “de tudo” nesse mundo. Sofia fora mais longe e não havia gás, por sorte. Umbelino bebera naquela noite mesmo o dinheiro do botijão encomendado. Embora abertos, os botões do fogão não expeliram a condenação à morte do próximo habitante, no caso, ele, Umbelino. Riu como hiena ferida e confuso bateu a porta. Caso a encontrasse até pediria perdão. Nunca mais a viu, porém. E, ela, virou uma noite: demasiadamente nítida.

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