terça-feira, 21 de dezembro de 2010

De resto


De resto, havia escondido os chocolates tão bem que seria impossível ao irmão descobri-los, mesmo com seu faro insuspeito de cão perdigueiro. Uma vivaz, tácita e sempre crescente relação de desconfiança já estava consolidada entre os dois, com aparentemente inconcebíveis jogos de manipulação praticada em ambos os lados. Ele passava as horas lendo ou dormitando, planejando viagens espaciais ou colhendo goiabas no pé. Ela angustiava-se, queria o desafio, quase como um pedido para não ser ignorada. Pela vida, ela nunca habitou estrangeiras paisagens. Ele, morou no mar, depois de deixar por uns tempos o sertão distante. E não havia moral que desse jeito na história. Para sempre, na existência comum, haveria um bombom de chocolate oculto em algum lugar desconhecido. Tão recôndito, que esquecido.

Um comentário:

  1. Alaor, o curioso é que o chocolate lembra cheiro e esse corresponde a faro – o faro lembra perdigueiro. Mas o problema é que nem todos os perdigueiros, perdigueiros são. Senão, vejamos. Certa vez, lá no município de Paulo de Faria, um caçador caçava com um perdigueiro. A codorniz voou e o caçador preciso a derrubou. O perdigueiro a buscou, porém desconcentrou. Normalmente, o perdigueiro leva a caça abatida ao caçador, mas dessa vez, ele a entregou ao guarda-florestal que se aproximou. Você acredita que o caçador nem notou? Porém depois chorava e reclamava. E o perdigueiro ali bem do lado todo sociável o rabo abanava. Acho que mudei o rumo da prosa.

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