quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O filósofo

O filósofo que habitava Cristófolo herdara da mãe a mania de grandeza. Em nome do impessoal, à mesa, comia todos os bifes alheios. Na escola, desmarcava os livros que outros liam, para lhes tomar de súbito empréstimo, em seu tempo e vontade. Leu assim, sim, o suficiente para o pedantismo. E vertia, às tantas, às inflexões sobre a existência, a verdade, os valores morais, o bem e o mal, a estética. Havia sempre um argumento racional capaz de justificar seus notórios atrasos, o cano nos amigos, o riso das falhas, a glosa dos erros ou o embuste intelectual. Nem com Nietzsche, entretanto, explicou sua grandeza ao atropelar o síndico. Pagou a pena, e dedicou o resto de sua vida ao estudo Michel Foucault.

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