quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Fantoche

Fantoche no sofá da sala, Otávio desabitava o óbvio: marido, pai, trabalhador. Enviesava as leis vigentes e tomava outra. No mundo secreto em que vivia sempre acabava de se lembrar, quando a urgência esquecida lhe surgia na forma de alguma cobrança. Pode apostar que pensei nisso, falava flácido, transpondo desculpas. Quando o mais velho, por influência ou coincidência usurpou-lhe o lugar na poltrona, o berro de Otávio ecoou no vazio. Mulher e menores, incomodados, se cuidaram. Por detrás da porta, riram de seu erro, quebrando a bronca em mil pedacinhos, até que Otávio não a conseguisse montá-la, ali ou em lugar algum. Da casa ao bar foi um catar de cacos. E oculto na rua não hesita em perpetuar dispersões: - “Que trabalhem, os trouxas!”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário