Uma perversão circense fazia da casa picadeiro de contrariedades. Tal malabarista carente de coordenação motora, a avó cismava entoar fados sempre que não queria ouvir os latidos do cachorro. O avô sorria o riso dos mágicos, de cuja cartola saltava rezas ou piadas nem sempre eficazes ou engraçadas. Da mãe, trapezista de forno e fogão, surgiam os saltos mortais de galetos e pescados, sempre prontos ao aplauso, mas ansiosos com as possíveis quedas. Com filipetas e megafones, o pai anunciava a chegada da companhia aos distintos logradouros da alma. O cão adestrado à desobediência, os pássaros falantes, o pedaço do osso de dinossauro sobre a mesinha da sala, os discos 78 rpm, a lona que cobria a varanda, eram atrações extras. Hoje tem marmelada? Todos se perguntavam a todos os instantes, como se em dado momento do espetáculo tivessem que se travestir de palhaços.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
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