Não era dor, era pressão. Os incomodados que se cuidem, lhe aconselhou o médico, a quem Torquato foi reclamar daquilo no peito. A indiferença celebrava aniversário e o digno pedreiro viu-se em flagrante comemoração da dada: “faz um ano, doutor!”. Sua moléstia já havia sido chamada de doença, evoluíra à enfermidade, virou mal e chegou a síndrome, mas poucos deixavam de fazer mexericos ao padecimento de Torquato. “Dessa vez, capricha no quadro”, gozava a vizinha Afonsina, sempre que ele se dirigia às pressas ao postinho de saúde da prefeitura. Foi um reles raio xis que apontou a agulha firmada às margens do pulmão. A médica recém formada alarmou-se, solicitando a imediata transferência do paciente para um hospital com reais recursos. No caminho, porém, com o resultado do exame à mão, Torquato pediu ao motorista da ambulância que parasse na Gazeta Urgente: “tenho um compromisso com a opinião pública, antes que minha pressão chegue ao fim”.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
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O contexto ativou minha memória. Certa vez, um jovem senhor (mecânico) chegou ao médico e disse: doutor, não sei o que fazer, minhas dores me torturam e pelo jeito o que me espera é uma aposentadoria precoce. Se o salário ao menos fosse bom, mas nem isso. O doutor o olhou e indagou: por que você não estudou? A resposta: doutor nessa nossa vida enquanto alguns estudam para depois sanar as dores, outros de mecânico trabalham para sanar os defeitos dos motores, mas ambos de extrema relevância e valores. Fez-se silêncio total, mas dava a impressão de que iria romper a barreira limite dos decibéis. O que será eles pensavam tão alto?
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