Cheio de chefleras e antúrios o vaso disse: “Obrigado, não fumo!”. No portão do condomínio, o carrinho de compras explicou e pediu imperativo: “Não sei voltar sozinho, leve-me à garagem, que é o meu lugar”. O banheiro imundo do bar da moda foi logo implorando: “Por favor, não me suje além do necessário”. A escada de acesso ao mezanino, sugeriu sedutora: “Ao subir-me, apóie-se em meu corrimão”. Um mictório do banheiro masculino mostrou-se engraçadinho: “não comece sem mirar bem no meu meinho”. E o mictório do lado desafiou chulo: “vamos ver se você é bom no meu buraco”. Cansado de ouvir o tom egocêntrico dos monólogos urbanos em primeira pessoa, foi até minha velha picape preta, que sempre me conduziu ao bucolismo das matas, onde tabuletas, plaquinhas e avisos absolutamente inexistem. Mas até tu, picape íntima, aderiu aos desaforos da vida: “Lave-me”, ordenou, para minha humilhação final.
domingo, 12 de dezembro de 2010
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