Com dois revólveres apontados para o rosto de Herman os pivetes receberam o relógio, a carteira recheada e o cordão de ouro de São Pedro Canísio, mas reclamaram do seu sotaque. Às gargalhadas bárbaras quebraram em mil pedacinhos seu par de óculos, pisaram em seu pé e saíram andando calmamente, como se o fluxo do dia estivesse em perfeita normalidade. O alemão se sentou no chão, atônito e troncho para a direita, apalpando o dedão doído. Seu inconformismo tolheu-lhe a voz e a reação de ódio que de fato sentia. Fou auxiliado por um porteiro do prédio que assistira mudo e de longe à desventura do gringo. Na delegacia, detalhou os gatunos, descreveu que vinha de um desencontro com Hélida Helena da Silva, brasileira, solteira 24 anos, com quem internetava há meses e a quem viera conhecer no Brasil. Que ela não era loira como dizia, nem modelo, a redonda. Que já se preparava para voltar à Berlim. O escrivão anotou tudo, mas reclamou do seu sotaque.
(Mongaguá-SP)
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