Removeu o óbice com uma chave de fenda. Na medida exata, tirou cada parafuso que lhe assediava o sonho. Apareceu o vidro com a função de desautorizar-lhe. Lenta e metodicamente sacou o diamante do bolso, sem conotação destrutiva ou maldade extra. Riscou, feriu simetricamente os cristais e anexou àquilo um velho desentupidor de pias, capaz de retirar a peça sem quebrá-la. Assistiu ao triunfo quando tocou suavemente na presilha do colar. Experimentou a sensação de tê-lo havido sempre tatuado à própria pele. Fechou os olhos, com o coração soprando. Retirou a peça com o altruísmo dos que se doam, colocou-a na sacolinha de veludo, costurada para o ato. Guardou a ansiedade no saco de ferramentas, se levantou sem escândalo e caminhou à entrada do museu: visitante privilegiado, quando tudo aquilo se encontrava fechado. Quando soou o alarme seus passos já ganhavam a rua, em comunhão máxima com a liberdade. Azar, de verdade, só percebeu quando sentiu a bala transpassar-lhe o peito. Tão estranha, tão doída, tão próxima ao colar idolatrado.
terça-feira, 17 de maio de 2011
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Grande Alaor, crônicas de prima. Abração.
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