sábado, 8 de janeiro de 2011

Roendo as pedras

Roendo as pedras o riozinho que passava era de água mineral. Pergunte a cem, todos dirão que sim. O povo se acostumou a beber ali e nem pensa que é diferente. O líquido lhe pesa na consciência, mas a verdade é potável. Às voltas com tudo isso houve a usina, que de bom da cachaça a todos no Natal. Embriaga as coisas. E disse o moço dos verdes que confunde os equilíbrios. Ninguém bebe pinga aos montes e sai no prumo. O que se fala é sopro, palavras de dois gumes. O veneno, por exemplo, dilui-se naquele curso que não pára, porque a água é sem dúvida boa. Foi o avô quem disse que o pai dele disse, então tempo não se discute. O riozinho, aliás, não passava, passa, porque a sede do povo continua vindo. Vai, mas volta. Ninguém duvida que a água é mineral, só uns falastrões que aparecem de vez em quando, doidinhos para adulterarem utopias.

Um comentário:

  1. Mas muitos também conheceram um rio que passava, não passa mais. Aliás, apenas a saudade dos mergulhos de ponta ou das bombas, onde os moleques despencavam segurando os joelhos flexionados. Esses, bem lá do alto do ingazeiro. As usinas não são mais de cachaças, mas de substância semelhante. Os moleques também assopravam e escondiam as roupas. O que fazer? Ir pra casa pelado não dava. O nudismo nem se cogitava. Os rios se transformaram em regatos – ficaram pequenos, já a história continua crescendo, porém sem sorrisos.

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