Pastas e gavetas borbulhavam papéis. Deixavam ponta para cima, de coisas, quando abertas. Não eram elas que necessitavam organização, era a vida de Gláucia. Desde que Heitor se foi não assentava suas bases. Absoluta adúltera, achava melhor assim. A vida aos gozos, o tempo em movimento de trocas, uma ou outra paixão de semana inteira. No salão de beleza trabalhava bem as vaidades alheias. Transformou feias em belas, tortas em retas, agônicas em alegres. Quilinhos a mais os tirava na esteira, os repunha na cerveja e o saldo era quase sempre positivo para a gostosura exuberante, que dispunha às tantas. A pior fase da vida, entretanto, era sempre aquela, quando tinha que reunir papéis para o imposto de renda. Burocracia nunca foi parceira do prazer. Mas Gláucia seguia em frente, por vezes, sonegadora.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
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