Havia uma chuva de anos. A escuridão do dia era ilimitada. Assim, de um nublar sem fim. Então, só as plantas aquáticas sobreviveram. Muitos peixes; ninguém pescava com aquele tempo. Quase nenhum pássaro e gentes enrugadas pelo tédio. O mofo matava. A inocência se dizimava na medida da clausura a que todos se impuseram. Não havia estoque de naftalina que desse conta: era o cheiro oficial dos interiores. A energia chegava às falhas, como se tivesse medo dos raios, mas não havia raios, só uma forte e contínua garoa ininterrupta. Ninguém se mudava para outras partes ensolaradas do mundo porque não havia meio. Aos poucos, ódios gratuitos pelejavam. Trancafiados em trevas e umidade, acusavam-se mutuamente. Ninguém nem se lembrava da liquidez amniótica, porque não havia mãe.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
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