- Ah, vá avacalhar sua tia! Era mania de Edgard começar qualquer frase com “ah”. “Ah, não quero esse pão com manteiga”, dizia à mãe. “Ah, eu vou pescar uns lambaris”, argumentava com o pai. “Ah, beijo agora não”, desculpava-se com a namorada. “Ah, quanto custa essa coxinha?”, indagava o dono do boteco. Apesar do cacoete, Edgard levava uma vida próxima à normalidade, repleta, apenas, de pequenos reparos. Por conta dos ahs, quase todo comércio lhe negava descontos e até o padre relutava em lhe dar a benção. “Ah, então me dá um desconto”, “Ah, então me abençoe, vá!”. Seus ahs soavam como menosprezo a tudo. Mas foi graças a eles que se livrou de perder o relógio raro, doado pelo avô, dias antes de morrer. Quando o pivete apontou-lhe a arma e exigiu a peça, Edgard nervoso soltou logo “ah, então, leva”. O ladrãozinho achou que aquilo não lhe valeria nada...
domingo, 2 de janeiro de 2011
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