Esperando prosa boa deixou para ela o assento da janela. Conseguiu apenas perder a paisagem e ganhar silêncio. Dali, logo viu, não sairiam palavras. Todas, talvez, presas naquela boca comprimida na vidraça, que embaçava com o bafo todo céu límpido que aparecesse à vista. Parecia estar achando bonito tudo aquilo. Parecia olhar o mundo o interesse dos descobridores. Nenhum comentário. Parecia guardar aquelas visões na memória, armazená-las para depois, quando necessárias à felicidade, entretanto, quieta. Passavam coisas muito depressa, logo substituídas por outras: casas, pastos, bois, cidades, cercas, plantações e terras aradas. Mal as via e elas já escapavam, como a própria moça à frente, entre as paisagens e a janela. Então pediu ao motorista que parasse o ônibus. Mostrou o bilhete e exigiu que se cumprisse o contrato: “a minha poltrona é a da janela, meu senhor”. A moça, atônita, não abriu a boca.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
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