quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O dia de Sol

O dia de Sol radiante, e rosas muito mais vermelhas, pouco interferiu no ritmo metálico daquela sorveteria, de frisos de alumínio e plásticos monótonos. E o casal lambia o gelado para se vingar do calor, como se o amor tivesse pressa para não se dissolver em pingos doces e grudentos. Incomodado com o suor, descontrolado na libido e sem se lembrar da assepsia branca do lugar, o homem passou a língua na mão da mulher sobre a mesa, e bordejou o tampo com sua baba marrom de chocolate trufado. Foi a conta e o inferno. E aturdida com a indelicadeza a mulher tirou os dedos com a dissonância das chuvas de verão, ligeiras e quase sempre às pancadas. Disse que não, desarticulada. E levantou-se às tontas, rompeu o rotineiro tédio, arremessou a sobra na face do cidadão e rebolou embora rumo à rua fumegante. Fim de romance, no verão, é fogo!

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