segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O contraponto

O contraponto do sax, em clima sentimental, soprava pela milésima vez nas caixas acústicas da sala. Não era Ellington ou Coltrane o motivo, mas Márcia, a balconista da farmácia, que se alguma vez ouvira um jazz nunca soube. E Lélo, lá. Desmanchando-se nos acordes de In a sentimental mood, entre aspirinas e emplastos para a enxaqueca, paixão platônica e sequilhos de nata. Haveria que doer mais, para dar razão ao retorno à farmácia. Sucumbiu então (e novamente) à dor. Foi. Márcia entreolhou o colega farmacêutico, quando Lélo atravessou a porta. Estava abatido de uma noite inteira de jazz, marcado pela fumaça dos cigarros e diarréico das natas. Pediu mal e tímido um fortificante bom, e a ouvir a voz de Márcia, tudo o que pode ouvir foi um zumbido, com o solo de Coltrane... longínquo e inacabado.

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