quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Gargalhou de desprezo

Gargalhou de desprezo, mas continuou ouvindo. Puxou pra cima as sobrancelhas, entortou pra baixo os cantos da boca, mas continuou ouvindo. Chacoalhou que “não” a cabeça, em movimentos seguidos para os ambos os lados, sem parar de ouvir. Deu de ombros, virou as costas, parou e ouvia... ouvia. Ameaçou seguir (e deixar Clara lá, falando dos infortúnios do marido, das poucas proezas, dos muitos defeitos, da inércia constante), mas parou, ouvinte. Houve quem supusesse uma explosão de raiva, um grito de basta ou mesmo uma agressão. Ele, não. Só ouvidos. Dos negócios errados, do sexo mal feito, das dívidas infames, depreciações, desprezos, menosprezos, desdém, e ele atento, então, irônico. Até que Clara rugiu: “tão vendo?”. Ele disse: “não, só ouvindo!”.


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