Olhou bem para encontrar na carta todo aquele destino de amor partido e vida solitária que a cigana enxergava. Era uma dama de copas, de um baralho já puído. O que viu foi uma espécie de monalisa mal pintada, quatro corações espalhados sobre o quadro e um misterioso “Q”, assim, maiúsculo. A máxima antevisão dos símbolos coincidia com a mínima percepção de todos aqueles supostos conteúdos. Enxergar o escândalo onde o que havia era apenas estampa achou um pouco demais. O que tinha a dizer então já não disse, calou perguntas e deixou à pitonisa a função antropofágica de engolir suas próprias palavras e conclusões. Se havia na procura pelo oculto uma fantasia ingênua de felicidade, morreria pagão e desencontrado. A mulher falou em Quely, porque o displicente cliente mencionara o nome na consulta anterior. Ele sorriu, com o alívio dos sábios, “minha Keli era com ka”.
quarta-feira, 9 de março de 2011
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