A pressa específica de Fúlvia devia-se ao horário do dentista. A agitação, a um dilema que devia ser de nascença: engordava ou não a cada hora? Havia mais cheinhas, mas Fúlvia via as pitadas de suas proeminências como monstros lilases que lhe saltavam da pele. Era como se ouvisse acordes de clarins a cada mordida no palito de aipo, ou luzes de advertência em cada gole de chá verde. Comia pela obrigação tirana de manter-se viva. Tamanho enjoamento deixou Mário, seu marido, com a indigestão dos calados forçados. Dissesse que Fúlvia deveria tentar outra mordida, e sofreria o golpe da má educação da moça: “quer que eu arredonde?”. Falasse que não comesse, e viria a máxima redundante: “quer que eu morra?”. Nem gordo, nem magro, o coitado do Mário se foi primeiro. Morreu de enfarto numa sexta-feira, em plena crise de nervos após uma festa em que tinham ido juntos, na qual os salgadinhos estavam deliciosos.
sábado, 19 de fevereiro de 2011
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