Balançando as pernas, na extremidade da proa, Gilberto quis ser canoeiro depois de ler Guimarães Rosa. Era a sério, mas já não havia mais pau de vinhático para a confecção da embarcação. Comprou-a pronta, em três pagamentos iguais, sem juros. Jurou ao pai que iria buscar a terceira margem do rio. A mãe lhe conhecia os fogos de palha. “Cê vai, ocê volte, você nunca resiste!”. Cuidando de que o vissem no adeus, soltou rojão de despedida. Aquilo era tão insólito, pensou Lara, amiga de afeto e leituras. Gilberto encalçou o boné nike e colocou a tralha no barco. Foi a remo, sem pressa. Deu um dia, dois, daria o terceiro quando apontou no horizonte. Parecia abatido, estranho homem. O pequeno motor que levara por via das dúvidas tinha o destino em dois tempos de rumar para a margem dos parentes. A certeza de Gilberto era o vento na face, e a hipnótica frustração de não ter conseguido sequer tornar-se um personagem de Guimarães Rosa.
domingo, 27 de fevereiro de 2011
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