Onde e quando não poderia, Divanete, a faxineira, punha-se a limpar. Com a sutileza de um domingo de ramos, punha-se de rodinhos e baldes no corredor central da paróquia, lançando águas, puxando-as e cantando no exato momento em que o padre fazia a consagração da hóstia, e o coroinha tocava o sininho. O vigário a dispensou. Mas Divanete era trabalhadeira, e não tardou conseguir emprego no escritório de advocacia. O dono atendia ao casal que ajustava o divórcio, definindo quem ficaria com as panelas, quando ela, Divanete, soltou seu balde no chão da salinha, feito um juiz batendo o martelo. Dali à sossegada residência do escritor, localizada no alto de um morro, foram apenas alguns dias, após a nova demissão. O homem centrava-se em seu computador, com o silêncio dos raros pássaros e os pensamentos no labirinto das palavras quando ela, Divanete, dá partida num ensurdecedor aspirador de pó. Não foi demitida, mas mudou para sempre o texto nunca escrito do autor.
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
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