sábado, 12 de fevereiro de 2011

Molhou o espelho

Molhou o espelho para que embaçasse depois. Era frio, calor, mormaço, nem sabia direito daquele fogo que sentia por trás do peito e antes das costas. Coisa enovelada, meio ardência, desejo ou falta de enlaço. Era sábado. Amigas dilatadas foram às farras. Outras, nem sabia, oravam, cantavam, namoravam os seus, sabe-se lá. Empossada de um certo espanto só sobrevivia. Porque leveza que era bom; asas, então, nem precisava dizer; não as tinha. Finita naquela casa piorou lendo Hilda Hilst. Sem reposição de águas, com a secura de uma danação e a aridez de um ódio, tomou a si as dores das décadas. Trinta anos e austera. Cadência de nadas. Nenhuma armadilha ou traição de amor: um minotaurozinho que fosse naquele labirinto. Melhor deixar para o domingo, porque na segunda volta ao trabalho. E a figura de seu rosto, já está mesmo toda distorcida no reflexo opaco daquela fumaça do banheiro.

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