Não fossem os cinzas fios de tabaco, que aqui e ali rumavam para o infinito, e o cheiro do café recém coado naquele bar teria reinado, soberano. Às quartas-feiras, Délio estava lá com seu bloco de anotações e uma velha caneta, cuja obsolescência não fora capaz de extrair-lhe a elegância. Pedia um puro, sorvia e escrevia. O paradoxo surgia no nível do conhecimento, jamais no das ideias, mas da pessoa. Todos se relacionavam bem com Délio, mas ninguém nunca soube sobre o que escrevia. Eram movimentos curtos e olhares para ar. Goles às caras meditativas e prazerosas, baforadas por imaginários do além bar. Dissessem-no poeta, como no apelido, e ele não se ofenderia. Chamassem-no escritor, também não. Ou apontador de jogo do bicho, almoxarife, apontador, tanto fazia. Délio era assim, coruja, disfarçado de papagaio.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
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