A doença metafísica de Carlão era a irresponsabilidade, a outra, apenas uma úlcera que ia e vinha. Jamais se curou da primeira, que o impelia ao esquecimento das papinhas e remédios para a segunda. Defeito espiritual, costumava dizer, crente que se edificaria a partir de um som de harpa ou meditação transcendental, ouvida e praticada no quartinho secreto mantido nos fundos de casa, com vista a um enorme edifício. Das janelas vizinhas ouvia estranhos mantras: “vista a roupa, idiota... a roupa, idiota... idiota”. Olhares curiosos aqueles. Sons hesitantes de bondade. Um xis mexendo na questão da sua existência. Ilustríssimos ecos de cabeças à toa. Por outro lado, extraía vida daqueles delírios soltos no ar. Chegava às alturas... e se esquecia da úlcera, como quando viera a esse mundo.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
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