sábado, 7 de janeiro de 2012

Na negação

Na negação se portava tranquila. Ilza nunca dizia sim, meio que para cuidar bem de seus exageros ou indecisões inconfessáveis. Sem fazer uso da alma, recusava aos convites de Júlio para conhecer as montanhas ou ver estrelas. Dá cá tua mão, quis ele, antes de ouvir um novo não. Mas que namoro é esse? – sempre objetava o sujeito, nas vãs tentativas de convencê-la a um beijo ou qualquer coisa que pudesse denotar carinho. O moço era repleto de concórdias e cordialidades. Era do sim, do de acordo. Espalhava opções à namorada: um riso, uma nulidade, um saco de pipocas quentes. E nunca não. Até aquele dia. Subiu muito alto na antena da emissora de rádio. Declarou ao mundo o iminente suicídio amoroso. Ilza, num lapso, bem que esteve na hora, no chão, no megafone dos bombeiros para ele descesse. E pela primeira vez na vida, Júlio disse a ela que não.

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