Deitado levantou a voz: - Outrora as damas traziam uma limonada para um pai no seu descanso! O afilhado o entreolhou. As duas filhas riram entre si, galopantes. A urgência para o fim daquele ócio paterno era prioridade da casa, havia anos. A mãe, já morta, deixara a exploração para subir ao céu. Elas e o afilhado produziam e vendiam as trufas de chocolate, capazes de lhes assegurar um naco de sobrevivência e miséria. O menino pulou a cerca e furtou o limoeiro da vizinha. A mais velha sacou o açúcar em sachê, surrupiado da cafeteria. A mais nova providenciou a água da bica, não muito gelada, porque fazia calor. Nenhum dos três assumiu a cicuta, mas o médico garantiu que aquela dor de barriga passageira que José sentiu fora, sem dúvida, provocada por algum veneno. Indócil, ele jamais tomou limonadas, nos quase cinquenta anos que lhe restaram depois daquela tarde.
domingo, 17 de junho de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário