Sabia o nome das estrelas e dos homens que escreveram livros. Conhecia os livros, com a intimidade de um amante: cada coisinha escrita numa página lá, entre as tantas. Logo aquele homem interessou-me menos pelo seu tamanho, que não era dos maiores, mas pela quantidade de mundos que carregava em algum lugar dentro dele. Disse-me que eu tinha um nome idêntico ao de um emir árabe na invasão moura da Península Ibérica, quando o garçom serviu empadas de frango e um copo com guaraná. Também se silenciava ao comer, digno e muito educado. Sabia a natureza dos frangos e a origem gastronômica das empadas. Confessou-se, entristecido, pouco conhecedor de botânica, lembrava-se apenas que o guaraná era a Paullinia cupana, um arbusto amazônico. De poucas palavras aos estranhos, calou-se de vez quando o artista da noite pôs-se a explicar seus quadros. Baixinho, cochichou apenas para eu ouvir: “qué cosa horrible!”.
terça-feira, 14 de junho de 2011
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