Ogro seria exagero, girino não. Por infelicidade alheia, ria muito, o que lhe piorava a feição, contradizia Darwin e humilharia o sapo que o pariu, se partíssemos da comparação supracitada. Ernestão não só tardava no raciocínio como falhava na estética, mas entre os infortúnios do mundo, diria a avó, era dos males o menor. Pois apesar da distância entre o beiço e o queixo, da irregular altura entre um olho e outro, dos assimétricos furos nasais, tinha intenção e gestos bons. Poderia ser mencionado apenas como mais um bom monstro da literatura clássica, um Corcunda de Notredame esperando o buzão do Irajá, mas Ernestão fez mais do que ficção histórica, fez a história do bairro. Ajudou velhinhas a carregar compras pesadas, cegos a atravessar a rua, crianças a chegar à escola. E quem ainda duvida do feitos de Ernestão, pode perguntar a qualquer um, no Jardim Aparecida, vulgo Vila do Feião.
sábado, 4 de junho de 2011
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