Golem ou Frankenstein, mas feminina, a pobre Fátima era de uma subserviência ímpar. Fora feita à falha e semelhança de um pecado inconfesso, praticado pela genitora no estacionamento de um shopping, durante a embriaguez de um segurança macho. Nasceu assim, com o cérebro assado, mas a lógica perfeita, apesar da ausência dos movimentos físicos. Dispôs-se inteira às vontades maternas, que de tantas e tão toscas transformou-a em objeto de troca: mulher elefante, mulher barbada, anã contorcionista. Promovida a “vale estacionamento” para deficientes, “vale ingressos” para shows, “vale vagas” nas filas e concursos, virou uma espécie de tarja eletrônica, ainda que carente de chips. Abria porteiras impossíveis pelas rampas de acesso. E, mesmo no mega espetáculo da vida, obteve o trânsito dos poucos: menos para si, mas sempre para a mãe, que intimamente sorria com a sua conquista.
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário