
quinta-feira, 30 de junho de 2011
A tartaruga

quarta-feira, 29 de junho de 2011
Pois, então...

Pois, então... Disse pro senhor. Repeti três vezes. Era outra dessa coisa aqui. Idêntica, sem tirar nem por. Fui criado mudo, sabe? E também vim crescendo surdo, porque lá em casa criança não abria a boca e, já mais grandinho, ai se repetisse coisa que escutou. Envelheci assim. Depois fizeram que fizeram até à toa me mandaram pra cá, meio apartado. Às vezes sinto-me meio traste, como se tivessem tirado a forma de mim e deixado só eu mesmo, assim, pro consumo. Mas se tem uma certeza que tenho é a de que disse pro senhor, que repeti três vezes; a coisa era ver e ter essa outra. Mesma grossura, também um pouco gasta, com muitas passagens de sucesso. Vendi! Avisei ao senhor. Agora, o senhor querer que eu venda essa aqui... nem pensar! Se eu me dispor vou ficar sem e, cá entre nós, já não consigo mais viver sem ela.
terça-feira, 28 de junho de 2011
Depositou pérolas

segunda-feira, 27 de junho de 2011
Pedimos licença

domingo, 26 de junho de 2011
Entontrou o tratamento

sábado, 25 de junho de 2011
Por amar

Por amar, sobretudo à mãe, mas à Regininha também, Umbelino envolve-se numa confusão de sensações, quase sempre voltadas às poucas qualidades divinas da moça. Mesmo ciente daquilo que sentia, não tardou em acariciar cismas, excitar mundos ideais para a contrapartida romântica e em criar rápidas mutações teatrais para tomar-lhe o maduro da relação, sempre jogando verde. O corpo anguloso da fêmea foi aos poucos se tornando quadrado, naquela visão enviesada de um Umbelino transbordante de ciúmes. O inquieto amor repleto de zelos extraordinários lhe convulsionava o âmago, até o dia em que presumiu a fórmula infalível do controle absoluto: um cativeiro! Convidou a pobre para jantar em chácara distante, e lá a trancou a sete chaves. Para a comemoração dos dez anos de união consolidada e exclusiva, levou um bolo de aniversário àquela vítima do destino. Feito, dedicadamente, com morangos, pela mãe.
Caeté-MG
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Era um dia

Caeté-MG
quinta-feira, 23 de junho de 2011
Estatelado lá

quarta-feira, 22 de junho de 2011
Tomado de êxtase

terça-feira, 21 de junho de 2011
Entre os antecedentes

segunda-feira, 20 de junho de 2011
Perante o fato

Perante o fato, já enfadado, Peri cometeu o ato pedante. No silêncio dos espectadores do velório, levantou a voz, como para impedir que os olhares curiosos penetrassem desmedidos no mundo secreto da viúva. “Morreu feliz, o Armando, ara!”. Todos sabiam do infarto, do quarto e da circunstância vexatória com a qual os jornais noticiaram a morte no motel, mas se fingiam tontos. Jacarés ao sol na beira do lago. Mocinhas em baile de debutantes. O vozeirão de Peri surpreendera a farsa. Mas teria ficado por isso mesmo, não fosse a revelação seguinte: - “Ele deixou um caderninho, onde anotou particularidades de cada um dos senhores”. Gilberto, saiu de fininho, e deixou-se atropelar por um caminhão em frente ao cemitério. Justo ele, coitado, desconsiderado por Armando, cujo nome jamais mencionou na lista dos bons amigos.
domingo, 19 de junho de 2011
Vejamos e viajemos

sábado, 18 de junho de 2011
Domou o pingo

sexta-feira, 17 de junho de 2011
Dos dobrados

quinta-feira, 16 de junho de 2011
Enquanto lia

quarta-feira, 15 de junho de 2011
Sereníssima aclamação

terça-feira, 14 de junho de 2011
Sabia o nome

segunda-feira, 13 de junho de 2011
À medida

À medida que sujava o mundo, crescia-lhe a calma. Foram vastas lascas de madeira deitadas pelo corte. Rios de águas despachados a esmo, sem ressentimentos. A fartura, enfim, daquilo que pelo descarte revertia-lhe lucros. Dorival dominava, sem arte ou armas, a imensa paisagem bucólica das terras que já herdara explorada. Fez crescer o acinte, com maquinários inimagináveis: grandes e destruidores. Tornou-se senhor de um ex-paraíso, revolvido à base de implementos, agrotóxicos e algum divertimento. Não era, então, por demais idoso, mas já com a pança na poltrona de angico, vermelho e pasmo, passou a fortuna à geração presente. Nenhum inconveniente ou perigo iminente. O mundo, de tão óbvio, permaneceria sujo.
domingo, 12 de junho de 2011
Comer terra

sábado, 11 de junho de 2011
O garçom
sexta-feira, 10 de junho de 2011
Encontrou pepitas

quinta-feira, 9 de junho de 2011
Golem ou Frankenstein

quarta-feira, 8 de junho de 2011
Debaixo do telhadinho

Debaixo do telhadinho havia uma mulher com o cigarro aceso. Impressionava menos pelo biótipo, do que pela fumaça que espirava por ventas e boca. O cinza daquilo cobria o marrom das telhas. Provavelmente fora condenada à fogueira por alguma inquisição displicente, e fez-se Joana D’Arc, queimada viva, naquele pedacinho de teto nublado. Nos raros momentos em que se via a brasa brilhar outro trago, parecia haver-lhe um véu vermelho ou lhano pano envolvendo-lhe a face rubra alaranjada. Se fosse daqui, provavelmente haveríamos de conhecê-la, porque a vila era do tamanho de um ovo no dizer simples daquele povo. Sem rimas, mas amável. Sem grandes coisas, mas repleta de muitas pequenas esperanças móveis. Mesmo as baforadas tinham nome. Exceto aquela sob o telhadinho, que de tão estranha ninguém mais viu. Alguns nunca mais deixaram de chamá-la Maria. Outros, só a citavam, por ouvir dizer.
terça-feira, 7 de junho de 2011
Tentou tanto

segunda-feira, 6 de junho de 2011
Paria e transferia

Paria e transferia o encargo à tia. Michele era dada a doar-se à margem, onde houvesse um covil que a quisesse bela. Porque bela, na verdade, ela não o era, mas sempre há ladrão que saiu da prisão a seco; o meliante iniciante, a quem cada golpe é uma façanha; o bandido distraído que, louco ou bêbado, a comia. Os caprichos da fecundidade encarregavam-se do resto. A silhueta alterava-se a qualquer introdução na rima. Logo chegava Michele, com barrigão em riste, pedindo guarita à tia que a criara desde virgenzinha. Depois surgiam os furtos naquela casa aparentada, em prol do pai da criança, não vivia sem um extra ou aditivo à alma. Então surgia o recesso, um ou outro acesso e o natural regresso de Michele à corja; em busca de outro amor, abandonada pelo último pai de seu mais recente filho. À tia caberia a incumbência de produzir micheles ou, com sorte, novos machos, cujas mulheres que emprenhassem tivessem tias.
domingo, 5 de junho de 2011
Considerava saudável

sábado, 4 de junho de 2011
Ogro seria

sexta-feira, 3 de junho de 2011
Sem romantismo

quinta-feira, 2 de junho de 2011
Frio na espinha

quarta-feira, 1 de junho de 2011
- Escória, ao seu

Diva, a feia, é assim. Quando vem em casa para a faxina semanal e limpa o tabuleiro de xadrez sobre a mesa, provoca confusões espetaculares no Estado, no clero, nas armas e na sociedade civil.
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